quarta-feira, agosto 23, 2006

O ESPADACHIM URBANO

(memórias de um repórter, 1996)
Com o “senhor das polêmicas”, um homem cordial atrás de um personagem irascível.
Toninho Vaz

Quando entrevistei Paulo Francis para o jornal NICOLAU, em mil novecentos e bolinha, éramos colegas na TV Globo, em Nova York, mas a entrevista foi no escritório dele, na rua 47, andar superior do duplex onde morava com a mulher, a jornalista Sônia Nolasco, correspondente do Estadão.
Se o Francis – como sempre – respondeu as perguntas ao seu estilo, também é verdade que eu as fiz seguindo o MEU estilo. Uma delas, partindo da premissa de que ele tinha migrado das hostes das esquerdas para uma direita raivosa, Francis respondeu com o seu proverbial mau humor:
Repórter: As pessoas da sua geração tiveram, pelo menos, uma iniciação marxista. Isso não aconteceu com você?
Francis: Eu fui trotskista. Eu acho que o Trotski tinha uma visão metafísica da humanidade. Nada parecido com o comunismo. Era a teoria da revolução permanente. (Neste momento Francis aponta um quadro de Trotski na parede do escritório, ao lado de outro de Norman Mailer e emenda com o seguinte comentário):
Francis – Este aqui, o Mailer, está completamente louco. Com quase 70 anos e cada vez mais louco. Outro dia teve um debate aqui sobre o filme JFK, do Oliver Stone e... Bem, antes é preciso que se diga que os batistas, religiosos, são severamente proibidos de dançar. Para eles dançar é pecado. Então, no meio de um debate sobre a morte do Kennedy, com a presença do diretor, o Mailer se levanta e pergunta: “Vocês sabem por que os batistas não trepam em pé?” A platéia ficou em silêncio. “Porque podem pensar que estão dançando!”
R – (risos do repórter) Ô, Francis, a piada é ótima.... (risos)
Francis - Ora, no meio de uma discussão sobre JFK o sujeito me sai com essa...(Confesso que quase me esborrachei de rir.)
Dias depois de publicada, o genial Millôr Fernandes repercutia a entrevista em sua coluna no JB, dizendo que o NICOLAU tinha feito uma entrevista especial com o Francis, porque pela primeira vez ele falava da saudade dos amigos e da solidão do exílio nos EUA. Foi por sugestão de Francis que fiquei perambulando pela costa do Maine, durante um mês, onde encontrei algumas colônias de pesca portuguesas e, portanto, um manancial de pautas para reportagens.

4 Comments:

  • Toninho,
    perguntaste o que ele achava do livro "Vida e obra do plagiário Paulo Francis"do Fernando Jorge?
    Creio que nessa data (da entrevista) o livro já tinha sido
    publicado, ou não?

    By Anonymous Anônimo, at 11:38 AM  

  • Martiiinnsss;

    publica a entrevista na íntegra aqui.

    Maringas

    By Anonymous Anônimo, at 7:57 PM  

  • Muga, a entrevista foi feita em 90, não havia ainda o livro do Fernando Jorge. Caso contrário eu teria tocado no assunto.

    Toninho Vaz

    By Blogger Os Fiapos, at 7:49 AM  

  • Maringas, a entrevista é muito grande para um espaço como este. Seria melhor numa revista impressa. Mas vejamos...

    Toninho Vaz

    By Blogger Os Fiapos, at 7:50 AM  

Postar um comentário

<< Home