quarta-feira, janeiro 17, 2007

DAS REUNIÕES


A vida é engraçada. Em passado algo distante para os mais jovens, reunir cinco pessoas debaixo de uma árvore, que fosse pra jogar conversa fora, era considerado ato arriscado, quiçá subversivo. Com o fim da ditadura militar, a reorganização do movimento estudantil e, um pouco mais tarde, dos partidos políticos, as reuniões, maiores e mais movimentadas, ganharam o nome pelo qual eram conhecidas na clandestinidade - assembléias.

Tudo era assembléia! Pra discutir a posição diante da reitoria, do preço da passagem de ônibus, da instalação de banheiros mistos no metrô. Para tudo tinha que haver uma consulta às bases e uma assembléia para referendar as posições. Criou-se um vício, logo apelidado de "assembleísmo".

Muito Sarney, Collor e FHC passaram por debaixo da ponte, o Nosso Guia se fez presidente e a geração do tal "assembleísmo" chegou ao poder. Rapidamente, a culpa dos tropeços do governo estava, em parte, no tal vício do assembleísmo.

- Esses caras discutem, discutem e não dão solução alguma! - só pra resumir as críticas mais freqüentes.

Ora, será que esse pessoal neoliberal, reengenhado, emebiêizado não se dá conta da quantidade de reuniões a que somos submetidos todos os dias? Um dos grandes problemas do mundo hoje, com certeza, é o excesso de reuniões e a falta de iniciativa. Aliás, se tem iniciativa, ótimo. Mas precisa passar pelo crivo de uma reunião deliberativa qualquer. É reunião ampliada, reduzida, do comitê disso, da comissão daquilo, do núcleo tal, do grupo de trabalho que tal. Um sem fim de instâncias que deveriam, teoricamente, ampliar o poder decisão, se tornam entraves na tomada das ações. E como um câncer que não encontra antídoto, a prática das reuniões infrutíferas, cansativas, pouco produtivas vai se espalhando pela civilização ocidental.

É feito este texto. Não serve pra nada. Só pra perder tempo com reflexões sobre o vazio.

Antonio Basílio

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