quarta-feira, agosto 16, 2006

CIVILIDADE

Tenho a mania chata, porém civilizada, de me expor a polêmicas. Seja entre meus pares, seja entre desconhecidos, me agrada provocar sutis desconfortos na ordem "natural" das coisas.

Um bom exercício são as cartas aos condomínios que, por força do destino e da condição social, me vejo obrigado a pertencer. A maioria das gentes odeia condomínios e faz de conta que eles
não existem, entregando a gestão da coisa pública que, por proximidade, mais lhe diz respeito a uma pessoa, ou a uma empresa, em cujos olhos preferem não olhar. Mais ou menos como a parcela majoritária dos brasileiros faz com seus governantes eleitos. Depositam-lhe o voto e depois esquecem de fiscalizar seus atos. Dá no que dá, claro. Sanguessugas, mensaleiros, anões. Sinônimos para o que temos um aparente medo de encarar de frente - ladrões.

Pois bem, revirando a poeira de arquivos antigos em meu computador encontrei esta pequena flecha de civilidade, que na época me fez muito bem ao aparelho digestivo. Sei que funcionou perfeitamente. Talvez tenha atingido o mensaleiro no coração. Omitirei nomes para preservar a privacidade. Divirtam-se.


"Cara Sra.,

o motivo desta carta é protestar formalmente pelo que considero um desrespeito aos direitos de morador deste condomínio, em dia com seus compromissos.

Depois de cancelar a assinatura da revista IstoÉ por tê-la sistematicamente furtada nos dias de entrega, me vejo agora às voltas com mais um pequeno ladrão, um larápio de jornais.

Já perdi a conta das vezes em que tenho a surpresa de chegar para pegar o jornal O Globo, do qual sou assinante, e tenho a péssima surpresa de não encontrá-lo, ou encontrá-lo apenas parcialmente. Sim, porque o ladrão, que certamente habita nosso condomínio - o Globo, ao contrário de IstoÉ, é entregue na área interna do prédio -, é seletivo. Uns dias rouba o jornal inteiro, em outros, especialmente aos domingos, leva apenas as partes que lhe interessam: o noticiário principal, o esportivo e o caderno cultural.

Neste domingo, 30.8, por exemplo, saí cedo para o trabalho e pude verificar na porta de entrada da rua que os jornais - ao que me consta são 2 os apartamentos que o assinam, 101 e 102 - estavam completos, inclusive encartados com a capa do Atlas Geográfico, distribuído aos assinantes. Não recolhi os jornais, como faço sempre que os encontro na porta da rua, porque estava atrasadíssimo. Qual não foi minha supresa ao voltar e notar que restavam apenas as partes internas de ambos os jornais. Não posso dizer que o apto.102 também tenha sido vítima do ladrão. Mas tenho certeza que, em domingos de chuva, o apetite dele deve se aguçar.

O que mais impressiona é que num prédio com apenas 5 aptos., todos com moradores de classe média alta, alguém tenha problemas financeiros que não possa comprar um jornal. Ou pior, se porventura os tenha, se aventure a roubar o jornal do vizinho.

De que adiantam trancas, portas novas se o ladrão age do nosso lado e ficamos impotentes para detectá-lo?

Gostaria que o Condomínio tomasse conhecimento do que se passa. E sugiro logo uma providência: que sejam listados os assinantes de jornais e revistas do prédio e que o zelador, cuja contratação, por alegados motivos de segurança, foi decidida por maioria em assembléia, ficasse responsável pela entrega pessoal. Em caso de ausência do morador, que se determine um local de guarda de jornais e revistas para posterior recolhimento.

E claro, olho no larápio! Ele, ao menos, deve ser daqueles que se diz bem informado. Bem informado e mal formado."


Antonio Basílio