domingo, outubro 01, 2006

MEDO DE AVIÃO



Perdi alguém que não conhecia no vôo 1907. Uma pessoa distante da família se foi. É difícil chorar a morte de quem nunca vimos. Choramos pelo sofrimento de amigos e parentes. É uma dor em eco. Esses acidentes acabam sempre reforçando a noção da fragilidade (e fatalidade) da vida. Da imperfeição das máquinas e dos homens. Tudo parece certo e perfeito num momento, e no seguinte não está.
Eu nunca tive medo de avião. Desde pequeno sonhava em voar naqueles pássaros brancos, barulhentos. Minha mãe conta que fiz minha estréia na ponte áerea Rio-São Paulo com apenas 4 meses. Na infância, imaginei ser piloto. Depois comecei a usar óculos e as esperanças mudaram de rumo. Não perdi, no entanto, o fascínio pelos aviões. Já andei de Bandeirante, Concorde, Fokker, 7eteceteras, Jumbos, na econômica e na primeira. O que mais incomoda em todos eles, sempre, é o tempo da viagem. Passou de quatro horas, aí fica difícil. É um tal de virar pra cá, pra lá, de contar as milhas naquelas telas coloridas. Vôos imensos de 12, 13 horas podem ser bonitos para a gente contar vantagem depois.
- Olha, fui de Buenos Aires a Auckland, na Nova Zelândia. 13 horas de vôo!
Mas que suplício. Mesmo na primeira classe, tratado feito marajá.
Sufoco já passei alguns. Quem não tem uma história de medo em avião? Uma vez, sobre o Pacífico num vôo da JAL, a comida foi parar no teto e o estômago na boca por causa de uma turbulência.
Quando cai um avião grande desses a sensação é de que por muito tempo ainda seremos cobaias para experimentos arriscados. Rogai por nós, Santos Dumont!


Antonio Basílio