quinta-feira, novembro 23, 2006

CONTROLE DE VÔO

Hermann Nass

Ele entrou no bar com cara de poucos amigos. Numa das mãos, um celular cheio de botões, na outra uma garrafa zerada de um legítimo 12 anos. O bigode e os trejeitos eram do tipo "positivo, operante!" e não deixavam dúvida sobre a carreira escolhida pelo homem magro e carrancudo. A conversa girava em torno do acidente que vitimou mais de uma centena de civis, após o choque de duas aeronaves no meio do nada brasileiro.

- A culpa foi do controle de vôo, isso nós já sabíamos desde o primeiro dia. Esse acidente começou a ser desenhado em 1984, quando os militares foram expulsos do poder. Desde aquele tempo, nenhum governo investiu mais nesse serviço fundamental, que era realizado com maestria por eles. Os radiotransmissores ainda são os mesmos! -, bradava aquele homem magro. E acrescentou, após duas garfadas, que ainda hoje mais de 90% dos controladores de vôo ainda são militares.

- Então, por que esses militares não deram o sinal de alerta antes? Foi preciso morrer gente? - , perguntei.

O cara afundou o olhar no fígado com jiló que comia. Fez-se silêncio no recinto. Vida amarga essa!