quarta-feira, agosto 16, 2006

EU NÃO SEI FALAR JAPONÊS

Parte 2

Já dentro do circuito, mesmo sem falar japonês.

Alexandre Moreira Leite

Mal dormi . Tomei o café da manhã e parti ansioso para a estação. Vinte minutos depois estava descendo em Suzuka e na praça tinha realmente uma fila. Japoneses e muitos estrangeiros. Quando chegou a minha vez, o táxi preto já parou com a porta aberta. Entrei. O motorista fez a primeira pergunta. Timidamente, disse: “Suzuka Circuitô”. Ele acenou com a cabeça e fez a segunda pergunta. Mas confiante, mandei na lata: “Padocô”. Ele mais uma vez balançou a cabeça, engatou a primeira e partiu. Uns quinze minutos depois, chegávamos ao autódromo e ele estacionou o carro bem de baixo de uma placa onde estava escrito Padock. Desci abobalhado do táxi. Quando passei pelo motorista me lembrei do recibo. “Recito”, eu disse. Ele apertou um botão e logo saiu impresso o meu comprovante.

Voltei de carona para o hotel e na manhã seguinte repeti o “esquema” do Claudinho. Mais uma vez deu certo. A diferença foi a minha entonação. Quase um japonês perfeito. E assim foi até o domingo, dia da corrida. Repeti pela quarta vez todo o ritual, mas, para minha surpresa, pouco depois de deixarmos a praça de Suzuka para trás, veio uma terceira pergunta. Não sabia o que responder. Agora ferrou, pensei, o cara não entendeu nada e eu vou parar lá no Monte Fuji. Na dúvida, mandei um “Hi”, que em japonês significa sim. E o motorista voltou a se concentrar no percurso. Olhei pela janela. Tinha um enorme engarrafamento do lado de fora. Vai ver que ele perguntou algo sobre o trânsito. Olhei para o céu e vi nuvens carregadas. Será que ele me perguntou sobre a chuva? Fui despertado dos meus pensamentos por uma nova pergunta, a quarta. Firme, mais uma vez respondi sim. E daí em diante, vieram várias outras. E também vieram vários outros sims. Quando enfim chegamos ao circuito, o motorista era só sorrisos. Me esperou do lado de fora do carro já com o recibo impresso na mão. Até hoje não sei se ajudei o cara a resolver um grande problema ou se ele tirou onda com a minha cara durante toda a viagem.

Se algum dia você pensar em ir assistir o Grande Prêmio do Japão de Fórmula 1, lembre-se do esquema do Claudinho. Eu atesto. Mas, cuidado. Se o motorista lhe fizer uma terceira pergunta, olhe para o lado e finja que não é com você.