quinta-feira, outubro 05, 2006

DA SÉRIE: O EXTERMINADOR DE MANGUEIRAS


Hermann Nass

Certa vez, lá pelo início da década de 1980, quando lutávamos para banir a ditadura, presenciei o desabafo (in)conformado de um militante da ala mais radical da esquerda:

"Companheiro, a luta continua! Ainda temos um fusca e uma metralhadora!"

Não sei por que motivos me lembrei desta passagem vivida na Escola de Comunicação da Praia Vermelha, a ECO, ao ver a mangueira desta escola em Botafogo sendo enterrada dia após dia. As fotos revelam uma mangueira que perdeu seus galhos inferiores, de onde pendiam mangas em processo de amadurecimento. Vejam como os galhos restantes carregam muitas manguinhas. Por baixo, um mutirão se encarrega de jogar entulho aos seus pés (são duas árvores que cresceram juntas), dificultando o caminho da água até suas raízes. Tudo leva a crer que as mangueiras têm dias contados. Já falaram que vão construir uma piscina para os alunos e já falaram num pátio maior para a meninada. Resta saber se a mangueira será sacrificada ou não, e se esta atitude é aceitável do ponto de vista moral e legal. Uma outra mangueira centenária foi mutilada na Rua Sorocaba, na semana passada. Saiu no jornal e tudo. A equipe do fiapo de manga continua atenta e solidária às mangueiras indefesas. Mesmo que reste apenas um fusca velho e uma metralhadora enferrujada.