DIA DAS CRIANÇAS?

Alexandre Moreira Leite

Há duas semanas, andando por uma rua de Botafogo, me deparei com um menino que, sentado na calçada, chorava baixinho. Diferentemente das outras pessoas que passavam e o ignoravam, resolvi parar e perguntar o motivo de tanta tristeza. Ele me disse que tinha 10 anos, mas aparentava bem menos. Contou que seus pais moravam na favela Dona Marta e que não trabalhavam. Viviam das esmolas que ele e os irmãos pediam pelas ruas do bairro. O motivo do choro era um par de sandálias. No dia anterior, um homem, vendo o menino descalço, entrou numa loja e comprou para ele um par de Havaianas. Quando o garoto voltou para casa, a mãe, bêbada, o expulsou, acusando-o de ter comprado as sandálias com o dinheiro das esmolas. O menino teve que dormir na rua. Pela manhã, tentou retornar. Dessa vez, foi expulso pelo pai. Agora, restava a ele sentar e chorar. Chorar pela dureza de uma vida de apenas 10 anos. Depois do desabafo, e antes que eu pudesse oferecer ajuda, ele se levantou e saiu correndo. Correndo sem destino. Correndo sem futuro.

Como ele, existem muitos outros. Vagando pelas ruas, pelas praças, pelos sinais... Como fantasmas. Chorando baixinho. Um choro que a maioria das pessoas finge não escutar. E que fica mais abafado hoje, dia das crianças, pelo riso alegre daquelas que têm o que comemorar.