sexta-feira, outubro 27, 2006

IMAGEM DA JANELA

Hermann Nass

Lembro-me de governos passados, principalmente durante o regime militar, em que era comum tapar a visão das favelas com uma infindável fila de outdoors. Isso acontecia sempre que algum evento internacional estava por vir ou quando alguma importante autoridade (daqueles países que financiavam nossa miséria) visitava as grandes cidades do país.

As coisas progrediram, algumas de nossas favelas se tornaram bairros com um mínimo de infra-estrutura urbana, enquanto outras cresceram e tornaram inviável qualquer tipo de solução para o caos social. Hoje, muitas comunidades que habitam os morros e as periferias têm suas próprias leis, lavradas na base da luta social e/ou da bala.

Agora, no alto do morro, estão aparecendo casas novas, pintadas com cores fortes. Uma outra visão da favela, com certeza. Penso que o ideal seria a transformação progressiva da comunidade por dentro, até que todos os seus membros tivessem direito a água encanada, esgoto, saúde, segurança, transporte... e suas casas nas cores vermelho, amarelo, azul, verde...

Se a moda das cores pegar, sanados todos os demais problemas, poderão surgir favelas temáticas, em cores vibrantes e representativas do coletivo. Exemplo: A Mangueira pintada de verde e rosa; o Morro Azul, no Flamengo, nos tons rubro-negros; o Alemão, na cor mostarda; no ABC paulista, predomínio do vermelho porta de fábrica. Fico imaginando como seria o comportamento em algumas comunidades disputadas por mais de um grupo ou facção. Acho que não ia sobrar um balde de tinta na loja.

1 Comments:

  • No início dos anos 80, um arquiteto e urbanista, Rogério Aroeira Neves, me contava divertido como os profissionais tiveram que se render à "horrível" estética dos assentados nos primeiros conjuntos habitacionais construídos com financiamento do falecido BNH.

    As casinhas uniformes, pintadas em tons clarinhos, perceberam depois, eram uma afronta à individualidade dos moradores e insossas demais para seus padrões. Rapidamente eles se viravam em tintas e pincéis e transformavam tudo em um painel de cores, sem se importar a mínima se verde combinava com rosa.

    Os arquitetos tiveram que se render, e cada mutuário (que palavra, né?) escolhia e recebia as tintas para pintar suas casas. E os moradores ficavam felizes.

    É, faz muito tempo, mas é bom lembrar. As pessoas, em qualquer lugar, gostam de escolher as cores de suas casas.

    Estou ficando velha... :o)

    By Anonymous Anônimo, at 6:34 PM  

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