segunda-feira, novembro 13, 2006

COMUNISTA NO PODER

Hermann Nass

Mesmo que apenas por um dia, um comunista assumiu a presidência da república.

Quando estudante da Escola de Comunicação da UFRJ, lá por volta de 1979/1980, eu participava ativamente do então combativo e organizado movimento estudantil, que tentava dar sua parcela de contribuição para banir a ditadura militar e garantir a liberdade de expressão. Eram tempos turbulentos, onde pessoas ainda teimavam em desaparecer ou ser punidas por pensar de uma forma diferente, por acreditar em uma nova ordem política e social.

Corria na boca de todo mundo aquela história do cara que foi preso e torturado porque os militares encontraram na prateleira de sua sala o romance “A capital”, de Eça de Queiroz, e confundiram com “O Capital”, de Marx. Eu participava do movimento estudantil e morria de medo de ser descoberto, principalmente porque acreditava que meus pais iram sofrer duras represálias. Morava com eles num apartamento na Rua das Laranjeiras e escondia textos clandestinos dentro de uma caixa acústica. Tempos depois, reencontrei alguns desses manifestos de esquerda, que revelam algumas pérolas.

Eis o trecho de um dos textos que circulavam entre os estudantes naquela época, cujo título é “As três vertentes da construção partidária” (obs.: o texto é fiel ao original, sem correções (sic)):

2.Manutenção da estrutura clandestina:

Igualmente à preservação da clandestinidade nos parece, nesse momento, fundamental. A clandestinidade não é uma questão de princípio para os comunistas. Os comunistas não lutam pela clandestinidade. Ao contrário, a clandestinidade nos é imposta pelas classes dominantes e por seus aparelhos repressivos. Aos comunistas interessa a luta pelo direito a se constituírem legalmente no plano político partidário. Entretanto, esta tarefa, não se dá a dispeito da correlação de forças reais. E nesse momento, consideramos ainda que a preservação da estrutura clandestina é fundamental para o cumprimento das tarefas dos comunistas revolucionários.

1 Comments:

  • Isto me lembra, entre outras coisas, é claro, a inesquecível minissérie da Rede Globo chamada Anos Dourados. Dirigida por Gilberto Braga, ela tratava de retratar os anos 50. Apesar de associarmos os movimentos estudantis aos anos 60, pela série, vemos que este movimento começou bem antes. Nos anos 50, Marcos (Felipe Camargo) era estudante e namorava Lurdinha (Malu Mader com pele de propaganda de sabonete Nívea - lindinha). Entre uma aula e outra, Marcos arriscava seus primeiros beijos em Lurdinha que, ao sentir tantas novas sensações, não sabia que o mundo ia além dos bailes dourados e que seu primeiro acelerador de batimentos cardíacos fazia parte de movimentos estudantis contrários à ordem geral. Quando leio que o texto achado estava escrito em caixas de som, lembro do personagem de Felipe Camargo escondendo folhas mimiografadas dentro das capas de discos...

    By Anonymous Anônimo, at 11:28 PM  

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