terça-feira, novembro 14, 2006

FANTASMAS DA DITADURA


O coronel Oswaldo Oliva Neto assume, nesta sexta-feira, a chefia do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. É um cargo importantíssimo, que trata das estratégias macro do Governo Federal, a saber: gasoduto latino-americano, relações com o Mercosul, postura diante da Guerra do Iraque, o conflito do Haiti, programa de inclusão digital e por aí vai.

E você pergunta:

- Mas logo um coronel vai assumir um posto tão importante num governo democrático? Só faltava essa, né?

Pois é...

O tal coronel Oliva vem a ser irmão do Senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Ambos são filhos do General Osvaldo Muniz Oliva que, no hoje longínquo Governo Costa e Silva, ocupou pasta semelhante. Conta a lenda que o general-pai era nacionalista, de direita, porém não comungava nas cerimônias de tortura celebradas nos porões da ditadura. Oliva pai acreditava que o país precisava se afirmar como potência, defendia a tal ideologia da segurança nacional, mas considerava os secundaristas, alvo preferido das forças de repressão da época, apenas um grupo de garotos inconseqüentes que não resistiria a meia hora de interrogatório, dispensando o tratamento degradante empregado pelo pessoal do DOI. O próprio Costa e Silva teria vivido um dilema: reprimir o uso da força pelos militares ultra-nacionalistas, preparando a recondução do país ao poder civil a, por outro lado, impedir que as forças democráticas da época - organizadas legalmente na Frente Ampla - estragassem os planos de integração nacional promovidos pelo poder militar. O derrame sofrido em setembro de 68 veio abortar qualquer plano do Marechal e apressar o domínio das forças ditatoriais. Depois foi o que se viu.

É irônico que, quase 40 anos depois, o nome Oliva retorne ao Planalto em cargo semelhante. As mesmas estrelas, a mesma farda oliva, o mesmo sobrenome. Agora, com um viés de esquerda.

Antonio Basílio