sábado, novembro 18, 2006

DISFARCE

Hermann Nass

Mesmo no finalzinho da ditadura militar, os bravos companheiros do movimento estudantil ainda tomavam certas medidas de auto-preservação, que hoje em dia parecem ridículas. Uma delas, era mudar em cima da hora o endereço das reuniões - o aparelho - para discutir os caminhos da revolução ou para simplesmente trocar ensinamentos que aprendíamos nos textos clássicos sobre luta de classes. Ninguém tinha nome, tampouco citava-se os nomes de determinadas facções de esquerda, como Libelu, MR-8 ou AP. Havia, também, reuniões em carros que circulavam pela cidade. Aqui e acolá algum companheiro entrava ou saía do carro, levando ou trazendo informações que julgávamos fundamentais para nossa luta.

O grande disfarce, porém, era ser estudante. As reuniões sempre eram para fazer algum trabalho pra faculdade ou pra estudar as complicadas matérias dos primeiros períodos do curso de comunicação, como sociologia, antropologia e psicologia. Enquanto isso, a revolução prosseguia pelos corredores da Praia Vermelha, entre calouros e veteranos, alguns deles transformados em eternos estudantes.

Disfarce perfeito.