sexta-feira, dezembro 22, 2006

RENAS E RABANADAS

por André Pessoa.

Ah, Natal!!! Época em que podemos tirar os nossos corações da gaveta para enchê-los do mais puro cinismo. O calor que abunda neste verão escaldante, os enfadonhos filmes-família natalinos “la-criminosos” que passam na TV (onde - podem reparar - sempre neva), a miséria que recebemos a mais no salário de fim de ano (que não paga nem as primeiras prestações dos presentes que temos que dar). Isso tudo lembra o Natal. Mas nada barra esse cinismo de fingir acreditar que, de uma hora para outra, as pessoas irão se aceitar mais, se amar mais. Não se esqueçam que: durante o ano inteiro, todo parente é um filho da puta!

A campanha é forte. O refrigerante da família brasileira dá continuidade a sua "tática – clientelista -viciada" e nos oferta a velha musiquinha ranheta. As lojas contratam os simpáticos gordinhos desempregados que se submetem a colocar uma roupa infernalmente quente e aturar crianças pedindo presentes que eles nunca poderão dar a seus filhos. A cultura imperialista do Hemisfério Norte ainda nos empurra pinheiros natalinos, árvores que não são nativas daqui da América do Sul (além de nos convencer a enrolar metros de luzinhas psicodélicas em tudo que é lugar). E por fim, a Igreja, que fica nos lembrando o tempo inteiro que o rapaz nasceu pra criar uns feriados e morrer.

Não são mecanismos muito eficazes se olhados com um pouquinho mais de inteligência, mas acontece que funciona com quem acredita em tudo e que carrega alguma culpa escondida nas águas do passado. Para ser feliz , não preciso acreditar em um velho gordo que adora criancinhas, vestido com uma roupa ridícula, carregando um saco nas costas e puxado em um trenó por uns bichos que nunca vi na vida. Nem pagar o mico de ficar sentado em volta de uma árvore, como em um ritual pagão, ouvindo musiquinhas chatas e agudas, iluminado por umas luzinhas cafonas e piscantes. Para acreditar no ser humano, não preciso venerar um rapaz que foi passar uns tempos no deserto com a mãe, com uma prostituta e doze homens. Muito estranho!

Por quê, ao invés de alimentar a ganância do capitalismo comprando presentes que as pessoas não precisam ou não gostam, você não pega este dinheiro (e todas as parcelas que serão debitadas no seu cartão de crédito) e faz alguma coisa concreta para melhora o mundo (só para lembrar, o seu mundo)? Por que você e seus familiares não se juntam para, com este dinheiro todo gasto nos festejos natalinos, propiciar alguns momentos decentes para alguns dos milhões que passam fome? Pobre não precisa de reza e nem de festa. Precisa é de comida e de oportunidade.

Mas, se você, mesmo assim, continuar acreditando no Natal, não venha depois ser hipócrita ao ponto de ficar procurando culpado para todas as mazelas do mundo. Assuma que você é assim mesmo e acredita no Papai Noel, no Coelhinho da Páscoa, no Ney Suassuna e no Severino Cavalcanti. Aproveite e vá para a rua, nu, enrolado com as luzinhas coloridas que sobraram dos festejos e com o pinheiro velho e sem folhas enfiado no cu, cantando Jingle Bells para festejar a posse do Maluf e do Clodovil.

É isso. Este é o clima do Natal. Pelo menos teremos uma semana de folga até o Ano Novo. Não é carnaval, mas dá pro gasto.

CENA CARIOCA

Ela e ele na noite carioca - Foto de Lucas Landau

HYPER REALISMO

quarta-feira, dezembro 20, 2006

LAVANDO A ROUPA SUJA

Pedir demissão ou ser demitido não costuma ser situação agradável. Em geral, quem sai está na ponta mais fraca da corda, onde a queda é maior e as mágoas mais profundas. Há exceções, claro, para confirmar a regra.

O processo de demissão de um funcionário ocupa espaço longo nas teorias modernas de gestão de pessoas - o nome pomposo para o velho departamento de recursos humanos, que nos tempos de nossos avós era simplesmente "pessoal".

Pois os teóricos da área deveriam dar uma olhada em volta num fenômeno recente. As demissões, quase sempre cercadas de mistério a respeito de suas razões e motivações, estão gerando nos últimos tempos documentos interessantes sobre as relações de trabalho nas grandes corporações. Muita gente está vindo a público contar suas histórias pessoais em cartas abertas. No mínimo, estão lançando uma luz sobre as práticas das empresas e suas relações com os profissionais que contratam.

Um caso específico recente é o do repórter Rodrigo Vianna, da TV Globo, que escreveu um longo depoimento sobre sua vivência de doze anos na empresa da qual vai ser desligado em breve.

Vale a pena conferir em http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1309377-EI6584,00.html


Antonio Basílio

CENA CARIOCA

Corrida Noturna - Foto de Lucas Landau

terça-feira, dezembro 19, 2006

SONHOS DE INFÂNCIA

Você, que teve o privilégio de frequentar a pré-escola, se lembra de quando terminou o jardim de infância, a classe de alfabetização? Se lembra de algum amiguinho desta época? Quem sabe um deles não tenha virado um amigão, um companheiro de vida?

Este costuma ser um momento marcante na vida das crianças. Conheço um grupo de pais que está comemorando, com a escola e os filhos, essa espécie de formatura. Veja a mensagem que eles estão deixando para os pequenos.


SONHOS DE INFÂNCIA

ERA UMA VEZ UMA MENINA QUE QUERIA SER AEROMOÇA. ERA UMA VEZ UM MENINO QUE SONHAVA TER MUITOS AMIGOS. ERA UMA VEZ OUTRO MENINO QUE ADORAVA PEGAR JACARÉ NA PRAIA. E UMA OUTRA MENINA QUE PENSAVA EM SER BAILARINA SÓ PARA VIVER A FANTASIA DO ESPETÁCULO. HAVIA TAMBÉM UM MENINO LEVADO, QUE PENSAVA SE TORNAR CRAQUE DE FUTEBOL. O MENINO QUE QUERIA SER BOMBEIRO. A MENINA QUE FAZIA PLANOS DE VIRAR CAIXA DE SUPERMERCADO. E TAMBÉM AQUELE OUTRO MENINO QUE QUERIA SER CIENTISTA E DESCOBRIR A CURA PARA MUITAS DOENÇAS. TINHA AINDA A MENINA QUE QUERIA ESTUDAR AS ESTRELAS.

ESSES MENINOS E MENINAS NÃO SE CONHECIAM. NUNCA TINHAM SE VISTO. E NEM SONHAVAM QUE UM DIA PODERIAM ESTAR JUNTOS.

MAS A VIDA É ENGRAÇADA, NÉ? A VIDA E O TEMPO PREGAM PEÇAS NA GENTE.

ENTÃO O TEMPO PASSOU... OS MENINOS E MENINAS ESTUDARAM, TROCARAM DE COLÉGIO, TROCARAM DE CASA, ALGUNS TROCARAM ATÉ DE CIDADE.

OS MENINOS CRESCERAM, FORAM TRABALHAR. AS MENINAS TAMBÉM CRESCERAM, SE TORNARAM MULHERES LIVRES E CONQUISTARAM SUA INDEPENDÊNCIA.

FORAM TANTAS AS VOLTAS DO TEMPO QUE ESSES MENINOS E MENINAS ACABARAM SE ENCONTRANDO. POUCO A POUCO. A MENINA BAILARINA ENCONTROU O MENINO DE QUERIA TER AMIGOS. O MENINO DO JACARÉ ENCONTROU A MENINA PROFESSORA. O GAROTO DO FUTEBOL ENCONTROU A MOÇA QUE SONHAVA COM AS ESTRELAS. O BOMBEIRO ENCONTROU A CAIXA DO SUPERMERCADO. A AEROMOÇA ACHOU O CIENTISTA.

É VERDADE QUE O SONHO DELES TINHA MUDADO. ELES AGORA TINHAM OUTROS SONHOS, SONHOS EM COMUM. E POR ISSO ELES SE AMARAM. TIVERAM FILHOS. OUTROS MENINOS, OUTRAS MENINAS. PEQUENOS PINGOS DE GENTE QUE TAMBÉM TÊM SONHOS.

SONHOS PARECIDOS COM DAQUELES MENINOS E MENINAS QUE AGORA ERAM SEUS PAIS. SONHOS QUE VIRAM BRINCADEIRAS, CANÇÕES, HISTÓRIAS, AVENTURAS.

A INFÂNCIA É UM TEMPO DE SONHOS MESMO. É UM TEMPO TÃO ESPECIAL, QUE MESMO MUITOS ANOS DEPOIS, A GENTE, JÁ DE CABELO BRANCO, INSISTE EM SE LEMBRAR DELE.

É DE UMA PARTE DESSA INFÂNCIA QUE CADA UM DE VOCÊS, CRIANÇAS DA JARDIM BOTÂNICO, ESTÁ SE DESPEDINDO HOJE. VOCÊS VÃO DIZER ATÉ LOGO À ESCOLA QUE AJUDOU NOS PRIMEIROS PASSOS. NOS PRIMEIROS DESENHOS. NOS PRIMEIROS GARRANCHOS, NA LETRINHA TORTA QUE ENSAIAVA O NOME.

COMO AQUELES MENINOS E MENINAS, VOCÊS VÃO PARA OUTROS LUGARES, QUEM SABE, OUTRAS CIDADES. FAZER OUTROS AMIGOS. VIVER NOVOS SONHOS.

COM CERTEZA, NÃO VÃO ESQUECER DOS PRIMEIROS SONHOS. DAS PRIMEIRAS PROFESSORAS, DOS PRIMEIROS AMIGOS, DAS PRIMEIRAS BRINCADEIRAS.
HOJE, É SÓ UMA PASSAGEM... O TÚNEL PARA UM NOVO CAMINHO QUE SE ABRE. COMO AQUELES MENINOS E MENINAS DO PASSADO, OS SONHOS VÃO SER COMPANHEIROS INSEPARÁVEIS POR ESTA AVENTURA MARAVILHOSA QUE É A VIDA.
Antonio Basílio