sábado, setembro 02, 2006
OUTRO PRETO E BRANCO
Texto e fotos Alexandre Moreira Leite
Esta semana passei dois dias trabalhando em Ouro Preto. Entre uma gravação e outra, aproveitei para fazer essas fotos. É impressionante como a cidade é fotogênica. Para onde você aponta a câmera, encontra uma boa imagem. Nesta série, arrisquei o preto e branco da minha câmera digital, brincando com o contraste e com as sombras. Uma homenagem de um amador para os grandes repórtes fotográficos que comemoram hoje o seu dia.
A cidade analógica guarda a textura de um documento original.
Os casarios e o silêncio da noite: labirintos da nossa história.
Como uma imagem perpétua, Ouro Preto se protege do futuro.
DIA DO REPÓRTER FOTOGRÁFICO
Foto 1 - Américo Vermelho produziu o clik como transeunte, quer dizer, sem produção, em cena captada no Largo do Machado. Mulher dando no pé.
Foto 2 - Hamilton Pinto, nosso correspondente em New Orleans registra, depois do Katrina, os restos de um quarteirão. Impossível esconder embaixo do tapete.
Foto 3
Toninho Vaz fotografou Milton Nascimento no banheiro da gravadora EMI-ODEON durante gravação do LP Minas, 1977. A Muralha de Ébano.
sexta-feira, setembro 01, 2006
AUTO-AJUDA
Outro dia escrevi algo sobre “encarar de olhos fechados o sol e abrir o peito para o abismo”, com o propósito declarado de tentar evaporar. É o estado de espírito mais próximo do nirvana que conheço, partindo de um sujeito alheio a qualquer técnica de meditação, um autodidata do barato, como eu. Tenho conseguido atingir este estado de leveza apenas com uma xícara de café com leite e uma inalação natureba matinal. É verdade que foram anos, décadas de treinamento, mas eis-me aqui levitando, limpo como um bloco de mármore. Uma música suave, um mantra, por exemplo, pode ajudar na preparação do clima, mas o silêncio tem o seu valor. Quando falo em mantra estou me referindo a qualquer música que traga prazer, excluindo heavy metal e tangos, pois a manhã requer suavidade. (Uma sugestão? Round Midnight, com Ronnie Earl, repetidamente.)
Se houver o mínimo de disponibilidade, faça movimentos de alongamento muscular suavemente, nada de seção rítmica. Mãos e braços esticados para o alto, pés plantados no chão, uma leve inclinação do corpo, para a direita... e para a esquerda. Alongue-se. Se passar por sua cabeça um juízo equivocado sobre o ridículo da situação, lembre-se dos anos de loucura e drogas (incluindo álcool) que você experimentou na vida. As noites em claro, queimando seu cérebro como carvão, sua namorada insegura, fritando na cama, encharcada de suor...
Em seguida, faça movimentos mexendo com o pescoço, feito uma massagem nos ombros... Mantenha o ritmo de alongamento, apenas. Se o dia estiver frio, como hoje, pode começar tirando o agasalho de moletom para ficar de camiseta (branca, de preferência). Procure, gentilmente, tocar com as mãos nas pontas dos pés, para alongar as costas. Volte à posição standard e, se a salubridade do entorno permitir, aproxime-se da janela e respire fundo! Let the sunshine in. Pronto, você já pode começar o dia.
SOS MANGUEIRA
Tá vendo essa árvore toda florida! É a mangueira ameaçada de ceder lugar para uma piscina num colégio de Botafogo. Uma pena! Sem dúvida, uma grande perda para a próxima geração de fiapos de manga. Sei que a mangueira não é nativa do Brasil e, por isso, não está na lista das espécies a serem preservadas.
Uma pergunta aos especialistas plugados: pode-se cortar uma árvore exótica sem mais nem menos? Ibama, guarda florestal, bombeiros, IEF, Conama, ONGs, ecoentendidos de plantão... Socorro!!!
quinta-feira, agosto 31, 2006
HOJE FUI À PRAIA
Dia de inverno em Ipanema agora há pouco. Embaixo, o barraqueiro Antonio (sósia de Givanildo), da Teixeira de Mello.
Texto e fotos Toninho Vaz
Logo cedo, tipo 9 da matina, uma moça loura (na verdade, cabelos castanhos), algo sonolenta, colocou a cabeça na porta do meu gabinete de trabalho e mandou: “vamos à praia, se fores capaz”. Eu respondi sem vacilar: “Tem 57 anos que não vou à praia, estou desenturmado... Não conheço mais ninguém. Ipanema, então, não sei onde fica.” Ela insistiu: “Mude um pouco a rotina, venha dar uma mergulho com sua filha, veja que dia lindo em pleno inverno”.
Bem, aqui estamos nós na barraca do Antonio (o sósia do Givanildo), meio-dia de quinta-feira, 31. Um dia lindo, ideal para uma água de côco ou, para os sobreviventes ocasionais, uma cerveja bem gelada ou otras cositas mas... Estamos no território livre de Ipanema, a faixa de gaza. O Antonio, com seus 30 anos de calçadão, resumiu a querela dos tempos modernos no cenário carioca: “Qualquer calmaria é mal recebida. Alguma coisa está errada por aqui, vou passar uns dias em Caruaru”. Até agora, dedilhando este LPTop no posto 8, registrei uma notícia ruim e uma notícia boa, ambas trazidas pela brisa do mar:
Primeiro a ruim: Zé Louzeiro, o escritor e novelista, está muito doente, conseqüência do diabetes.
Agora, uma notícia boa para ecoar ao longo do final de semana: a terra é azul.
TIRO NO PÉ
Em fevereiro, os Guajajaras obstruíram uma ferrovia no Maranhão, impedindo o transporte de cerca de mil passageiros por dia e milhares de toneladas de produtos para exportação. O protesto era por melhorias no atendimento de saúde prestado por um órgão oficial do Governo. Mas quem saiu perdendo? A população, as empresas exportadoras e o próprio Governo, que deixou de arrecadar divisas com o comércio internacional. Na Bolívia, os índios Guaranis tomaram a estação de controle do gasoduto que cruza suas terras, exigindo do Governo investimentos de 9 milhões de dólares em melhorias sociais.
Os índios têm seus motivos para protestar, isso é certo, mesmo quando tomam atitudes que prejudicam muita gente sem culpa no cartório. Enquanto isso, os governantes continuam dando tiro no pé quando tratam da causa indígena.
quarta-feira, agosto 30, 2006
CASO DE POLÍCIA
Alexandre Moreira Leite
Madrugada de sexta para sábado, Zona Sul carioca. Na rua Mário Ribeiro, próximo ao Clube de Regatas Flamengo, um grupo de menores de rua aterrorizavam os motoristas que paravam nos sinais. Vários carros foram assaltados. Um motorista de táxi que passava pelo local ligou para o 190. Desistiu após o vigésimo toque. Ninguém atendeu. Ele seguiu um pouco adiante e encontrou um carro da policia. Um dos soldados informou que tomaria as providências necessárias. Meia hora depois, em uma outra corrida, o taxista passou pelo local. O bando continuava lá, assaltando. Detalhe, a menos de um quarteirão do local tem um quartel da Policia Militar. Pobres de nós.
O CARTEL DAS POUSADAS
(foto ilustrativa. produto não está à venda)
Hermann Nass
A vila de Trindade, que pertence ao município de Paraty, no estado do Rio de Janeiro, é um dos pontos mais bonitos do litoral carioca. Nos últimos anos, enormes transformações ocorreram neste paraíso, em função do aumento vertiginoso de turistas que invadem o pedaço, principalmente nos feriados e fins de semana. A antiga rivalidade entre nativos e forasteiros - estes acusados de comprar terras e casas, descaracterizar a vila, poluir as praias de pescadores e se dar bem às custas dos antigos moradores - também se faz presente em Trindade. Tem um grupo, porém, que se uniu e formou uma espécie de cartel das pousadas. Pelo menos no quesito preço: em feriados como Reveillon e Carnaval, os estabelecimentos só oferecem pacotes fechados e todos cobram o mesmo - e supervalorizado - preço.
Pudera. Com tantos exemplos de impropriedades cometidas pelos nossos representantes oficiais - os políticos - tá todo mundo fazendo o que quer. Como numa terra sem lei.
NEBLINA
Se for verdade que costumo praguejar contra o calor de 40 graus do verão, também é verdade que me regozijo com o outono e o inverno da Cidade Maravilhosa. Agora, por exemplo, 7 horas e a neblina anuncia uma manhã fria (13º), limpa e ensolarada. Quer melhor? Providencie uma xícara de café fumegante e uma música suave pra tocar: When Joanna Loved Me, com Paul Desmond, por exemplo, pode ser terapêutico. Nada de cigarros, como manda o clichê – continuo fora da indústria.
E recordar que o tempo é outro rio,
Saber que nos perdemos como o rio
E que passam os rostos como a água
Nos observa do fundo de um espelho;
A arte deve ser como esse espelho
Que nos revela nossa própria face
Com o foco da violência desviado para São Paulo, esta imensidão de cidade que se espraia até a Baixada Fluminense vive raros dias de trégua e calmaria, se considerarmos roubos de carros e assaltos relâmpagos como crimes secundários. A tendência de um espírito construtivista como o meu, cansado de guerra, é congelar a imagem e eternizar o equilíbrio majestoso da natureza, a harmonia dos contrários.
É o que a Marta Medeiros chama de “momento zen”; deixar para sempre na memória a parte suave e “boa” da vida. Ou da narrativa. Então, com os olhos fechados para o sol e o peito aberto para o abismo, continuo meu obstinado propósito de tentar evaporar – para acordar dois minutos depois.
REVOLVER - QUARENTA ANOS
Agosto de 1966. Há quarenta anos atrás chegava às lojas da Inglaterra o sétimo LP “oficial” dos Beatles: “Revolver”. O disco que provocou uma ruptura na trajetória do grupo. A carreira do quarteto de Liverpool passou a se dividir entre antes e depois de Revolver. Na primeira fase, eles foram os reis do iê-iê-iê, arrebatando fãs pelo mundo inteiro. Nesta segunda fase, os Fab Fours se mostraram mais maduros, mais preocupados com a parte instrumental das músicas. Se revelaram arranjadores competentes e inovadores. Arriscaram e acertaram. “Rubber Soul”, disco anterior a “Revolver”, já dava sinais de que esta mudança estava para acontecer, com os arranjos, instrumentais e vocais, bem mais elaborados. Esse processo de transformação se encerrou no disco seguinte: o insuperável “Sgt. Peppers”, que esta semana foi escolhido, através de pesquisa da rádio BBC 2, o melhor da historia da parada musical inglesa. Mas não existiria “Sgt. Peppers” sem “Revolver”, que mesmo soando diferente do que os fãs estavam acostumados atingiu o primeiro lugar no Reino Unido e nos Estados Unidos. Nele, os Beatles viajavam do rock clássico ao experimentalismo psicodélico. Entre as músicas do disco, destaque para “Eleanor Rigby”, “Yellow Submarine” e “Tomorrow Never Knows” (a minha preferida e que chamou a atenção dos eruditos John Cage e Stockhausen). Um disco que já chegou quebrando tudo. Minha história com “Revolver” começou com um engano. Só comecei a me interessar pelos Beatles depois do fim do grupo, na década de 70. Na época, todos os meus amigos recomendavam começar pelo famoso “White Album”. Fui numa loja no Centro do Rio atrás do LP. Levei para casa o único álbum do Beatles com capa branca que tinha na loja. Era “Revolver”. Pouco tempo depois ganhei de presente “Sgt. Peppers”. Durantes anos esse dois álbuns tinham presença garantida no meu toca disco. E, por incrível que pareça, ainda hoje continuam sendo trilha sonora do meu dia a dia.
Os Fiapos recomendam doses diárias de “Revolver”.
terça-feira, agosto 29, 2006
MAIOR AMOR
A pré-estréia do filme O MAIOR AMOR DO MUNDO no Cine Odeon, na quinta passada, fez a Cinelândia reviver seus áureos tempos. Uma multidão tomou a praça e Cacá Diegues foi cercado por centenas de pessoas, entre anônimos e famosos. "Entre todos os seus filmes, este passou a ser o meu predileto", disse Malu Mader ao diretor. Ao final do filme, aplausos demorados e gritos de um velhinho: "Isso é que é arte! Viva o cinema brasileiro!" Muitos risos da platéia durante a trepada de José Wilker e Thaís Araújo (na foto com o diretor). Há quem não tenha gostado da performance do casal. Ele, porém, era só alegria naquela noite memorável...
ÚLTIMO SHOW
Alexandre Moreira Leite
Quarenta anos atrás, no dia 29 de agosto de 1966, quatro rapazes subiam ao palco de Candlestick Park, em São Francisco, Califórnia, para o último show oficia da banda. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Star no ápice da carreira resolveram que não tocariam mais ao vivo. Oficialmente, a desculpa era de que eles precisavam de mais tempo para se dedicar às composições. Na verdade, o motivo foi a pouca qualidade dos equipamentos de retorno do palco. Os Beatles não se escutavam durante os shows, pois as músicas eram abafadas pela gritaria das fãs. Em várias apresentações, os garotos de Liverpool tocaram sem um ouvir o outro. Na época, a crítica especializada decretou que esta atitude levaria ao fim da banda. Até o empresário deles, Brian Epstein, se mostrou preocupado: “O que será de um empresário de uma banda de rock que não se apresenta ao vivo?". Depois do show em Candlestick Park, os Beatles só se apresentaram mais uma vez em público.
Foi em 1969, sem nenhum aviso, no alto da gravadora Apple, em Londres. Na verdade não foi um show, foi uma gravação para um documentário chamado “Get Back” (que nunca foi concluído), onde eles tocaram apenas nove músicas.
segunda-feira, agosto 28, 2006
IMAGEM DA JANELA (1)
A cena está se tornando cada vez mais comum nas grandes cidades brasileiras. Como a polícia está muiiiiiito ocupada com outros assuntos, a segurança tem ficado por conta da própria sociedade, seja na forma de milícias particulares, de sistemas sofisticados de vigilância ou, nos casos mais graves, de cidadãos armados. A foto mostra seguranças contratados por moradores e comerciantes da Rua das Palmeiras, em Botafogo, imobilizando um ladrão que agia nas redondezas. Muito tempo depois veio uma viatura da PM e prendeu o rapaz. Você já precisou recorrer ao telefone de emergência da polícia numa situação de emergência? Foi atendido? Deu tempo ou você sifu?
UM BRASIL PARA ESQUECER
Alexandre Moreira Leite
Sexta-feira, Baixada Fluminense. Uma empregada doméstica falta ao trabalho para levar sua filha a um hospital público. A menina está com febre há três dias. Na emergência do hospital, ela recebe uma senha de atendimento. Quando chega a sua vez, ela é informada que não tem pediatra para atender a criança. Sugerem para ela outro hospital, em um outro município. Ela pega um ônibus. São quarenta minutos de viagem. Ela chega ao novo hospital às duas horas da tarde. Já não estão distribuindo mais senhas e ela tem que voltar para a casa com a filha sem ser medicada. Casos como esses acontecem todos os dias em todo o Brasil. A saúde pública no país faliu. A saúde privada é para poucos. Pessoas morrem todos os dias por falta de atendimento médico e, pelo visto, vão continuar morrendo, porque nossos políticos sanguessugas não estão nem aí. A menina acabou atendida em uma clínica particular no sábado, graças ao patrão da mãe. Um cara que paga um absurdo de impostos que servem, entre outras coisas, para viabilizar uma saúde pública. Pobre Brasil.
domingo, agosto 27, 2006
SRV
Um domingo para celebrar a memória de Steve Ray Vaughan, que há 16 anos, a bordo de um helicóptero noturno, foi tocar em outros sítios.
Era músico (mais do que isso, guitarrista e blues man) da cabeça aos pés.
Como dizem os paulistanos, recomeindo Pride and Joy e o DVD “tribute” com Bud Guy, B.B. King, Clapton, Robert Cray e Dr. John, todos interpretando clássicos de SRV.
“She´s my sweet little baby
She´s my pride and joy…”