sábado, novembro 18, 2006

CENA CARIOCA

Viva a vista - Foto de Lucas Landau

DISFARCE

Hermann Nass

Mesmo no finalzinho da ditadura militar, os bravos companheiros do movimento estudantil ainda tomavam certas medidas de auto-preservação, que hoje em dia parecem ridículas. Uma delas, era mudar em cima da hora o endereço das reuniões - o aparelho - para discutir os caminhos da revolução ou para simplesmente trocar ensinamentos que aprendíamos nos textos clássicos sobre luta de classes. Ninguém tinha nome, tampouco citava-se os nomes de determinadas facções de esquerda, como Libelu, MR-8 ou AP. Havia, também, reuniões em carros que circulavam pela cidade. Aqui e acolá algum companheiro entrava ou saía do carro, levando ou trazendo informações que julgávamos fundamentais para nossa luta.

O grande disfarce, porém, era ser estudante. As reuniões sempre eram para fazer algum trabalho pra faculdade ou pra estudar as complicadas matérias dos primeiros períodos do curso de comunicação, como sociologia, antropologia e psicologia. Enquanto isso, a revolução prosseguia pelos corredores da Praia Vermelha, entre calouros e veteranos, alguns deles transformados em eternos estudantes.

Disfarce perfeito.

sexta-feira, novembro 17, 2006

É aflitivo tudo o que se faz sob
o império da necessidade

Eveno de Paros (séc. V a.C), poeta elegíaco e sofista contemporâneo de Sócrates.

quinta-feira, novembro 16, 2006

VIDA EM DUAS RODAS 3

terça-feira, novembro 14, 2006

FANTASMAS DA DITADURA


O coronel Oswaldo Oliva Neto assume, nesta sexta-feira, a chefia do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. É um cargo importantíssimo, que trata das estratégias macro do Governo Federal, a saber: gasoduto latino-americano, relações com o Mercosul, postura diante da Guerra do Iraque, o conflito do Haiti, programa de inclusão digital e por aí vai.

E você pergunta:

- Mas logo um coronel vai assumir um posto tão importante num governo democrático? Só faltava essa, né?

Pois é...

O tal coronel Oliva vem a ser irmão do Senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Ambos são filhos do General Osvaldo Muniz Oliva que, no hoje longínquo Governo Costa e Silva, ocupou pasta semelhante. Conta a lenda que o general-pai era nacionalista, de direita, porém não comungava nas cerimônias de tortura celebradas nos porões da ditadura. Oliva pai acreditava que o país precisava se afirmar como potência, defendia a tal ideologia da segurança nacional, mas considerava os secundaristas, alvo preferido das forças de repressão da época, apenas um grupo de garotos inconseqüentes que não resistiria a meia hora de interrogatório, dispensando o tratamento degradante empregado pelo pessoal do DOI. O próprio Costa e Silva teria vivido um dilema: reprimir o uso da força pelos militares ultra-nacionalistas, preparando a recondução do país ao poder civil a, por outro lado, impedir que as forças democráticas da época - organizadas legalmente na Frente Ampla - estragassem os planos de integração nacional promovidos pelo poder militar. O derrame sofrido em setembro de 68 veio abortar qualquer plano do Marechal e apressar o domínio das forças ditatoriais. Depois foi o que se viu.

É irônico que, quase 40 anos depois, o nome Oliva retorne ao Planalto em cargo semelhante. As mesmas estrelas, a mesma farda oliva, o mesmo sobrenome. Agora, com um viés de esquerda.

Antonio Basílio

CENA CARIOCA

SOLdade - Foto de Lucas Landau

NÃO LEIA SE VOCÊNÃO GOSTA DE JAZZ!!!!!

Marcelo França

Vem aí o 13º e se você lê este FIAPO, então você pode!

Você pode comprar dois discaços de jazz cheios de "previously unreleased", "extra take" e "long version", essas coisas. E como se não bastassem os intérpretes em questão - Miles Davis e Thelonious Monk -, você ainda leva de brinde o John Coltrane!

Faz sentido começar pela ordem cronológica. "Round About Midnight" é o disco da capa vermelha do Miles (simplificando muito, muito). Foi lançado em 1955 e trazia um jovem saxofonista chamado John Coltrane. Isso mesmo, ele ainda não estava com a bola toda. Enfim, o disco é espetacular e a nova edição traz outros 30 minutos inéditos, ao vivo, no início de 1956. Comprei numa livraria do Rio Design Center, da Barra. Preço? 39 reais por 90 minutos de música.

Menos de um ano depois, a bola era toda de Coltrane. Ao ponto de tocar com um dos nomes fundamentais do jazz, o pianista Thelonious Monk. As notas do CD se referem aos dois como "gênios". E este disco duplo traz várias versões de músicas do repertório de Monk. Até o sax de
Coleman Hawkins dá uma canja. E paguei apenas 49 pratas/100 minutos ali no Santos Dummont.

Bom, eu gostei pra caramba. E não digam que não avisei...

DA IMPRENSA ÀS IMPRESSORAS

Sempre gostei de ler impressos. Gibi, folheto, santinho, bula, em letras grandes ou miúdas. Palavras, letreiros, frases em camisas, com ou sem significado, sempre atraíram meus olhos como ímã.

Talvez por isso tenha virado jornalista, ainda alheio aos riscos de um clichê errado, uma troca de letras, um parágrafo truncado. Corte-e-cola não era uma metáfora digital e o carbono vinha antes da segunda e terceiras vias. Escreveu, não leu, pau comeu.

Isso deve explicar minha irritação com impressoras que não são detectadas, mesmo depois de trocado o drive, verificados os cabos e reinstalada a tralha toda. Ou com desalinhamento de cores, jatos entupidos, papel que não entra ou não sai.

Consertar? Quando tiver esquecido que a impressora existe, ela voltará com um defeito diferente, sem diagnóstico ou solução.

Tenho cinco impressoras, entre casa e escritório (2 HP, 2 Canon, 1 Epson), e nenhuma funciona como ou onde eu gostaria. A estratégia dá certo: cada vez que penso em consertar uma, pelo custo e saco-cheio acabo comprando outra, supostamente barratinha.

Socorro!

Fewerton

segunda-feira, novembro 13, 2006

COMUNISTA NO PODER

Hermann Nass

Mesmo que apenas por um dia, um comunista assumiu a presidência da república.

Quando estudante da Escola de Comunicação da UFRJ, lá por volta de 1979/1980, eu participava ativamente do então combativo e organizado movimento estudantil, que tentava dar sua parcela de contribuição para banir a ditadura militar e garantir a liberdade de expressão. Eram tempos turbulentos, onde pessoas ainda teimavam em desaparecer ou ser punidas por pensar de uma forma diferente, por acreditar em uma nova ordem política e social.

Corria na boca de todo mundo aquela história do cara que foi preso e torturado porque os militares encontraram na prateleira de sua sala o romance “A capital”, de Eça de Queiroz, e confundiram com “O Capital”, de Marx. Eu participava do movimento estudantil e morria de medo de ser descoberto, principalmente porque acreditava que meus pais iram sofrer duras represálias. Morava com eles num apartamento na Rua das Laranjeiras e escondia textos clandestinos dentro de uma caixa acústica. Tempos depois, reencontrei alguns desses manifestos de esquerda, que revelam algumas pérolas.

Eis o trecho de um dos textos que circulavam entre os estudantes naquela época, cujo título é “As três vertentes da construção partidária” (obs.: o texto é fiel ao original, sem correções (sic)):

2.Manutenção da estrutura clandestina:

Igualmente à preservação da clandestinidade nos parece, nesse momento, fundamental. A clandestinidade não é uma questão de princípio para os comunistas. Os comunistas não lutam pela clandestinidade. Ao contrário, a clandestinidade nos é imposta pelas classes dominantes e por seus aparelhos repressivos. Aos comunistas interessa a luta pelo direito a se constituírem legalmente no plano político partidário. Entretanto, esta tarefa, não se dá a dispeito da correlação de forças reais. E nesse momento, consideramos ainda que a preservação da estrutura clandestina é fundamental para o cumprimento das tarefas dos comunistas revolucionários.

VIDA EM DUAS RODAS 2

CHUPAR MANGA

Hermann Nass

Tá chegando a hora de chupar muita manga!

Vai chegando o final de ano e toda mangueira - espada (a mais fiapenta, predileta), carlotinha, haden, rosa... - exibe esses frutos maravilhosos e que, de tão incorporados ao nosso dia-a-dia - mais parecem nativos do Brasil. Na verdade, as mangueiras são provenientes do sul e do sudeste asiático e foram introduzidas no país, em Angola e em Moçambique por colonizadores europeus.

No terreiro da casa de minha avó, em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, havia uma mangueira velha, que diziam ser da época do início do ciclo do café. Seus frutos eram exuberantes, de uma qualidade inigualável. A árvore era guardada a sete chaves por um pastor alemão com cara de poucos amigos que ficava amarrado ao seu tronco. Quando criança, eu ajudava a garotada a distrair aquele monstro assassino para conseguir roubar uma ou outra manga que teimava em cair perto dele. Enquanto uns moleques ficavam atiçando o cão por um lado, outros, munidos de varas de bambu roubadas da cerca, pegavam os frutos.

Meu falecido tio Dalton dizia que as casas coloniais de Minas eram construídas com muitas janelas grandes para que as pessoas pudessem chupar manga em qualquer lugar. Era só debruçar para fora e chupar até o caroço, sem sujar a roupa.

VIDA EM DUAS RODAS 1

História de pescador.

PICANHA!

Please to meet you
Meat to please you


Slogan de açougue nova-iorquino, citado por David Letterman, homenagem aos carnívoros de plantão na chegada de mais um fiapo.

domingo, novembro 12, 2006

HYPER REALISMO