sexta-feira, dezembro 08, 2006

BÚZIOS PARA INICIADOS 7

Canto da Praia da Tartaruga - Foto de Hermann Nass

CRIME CONTRA A ÉTICA

Esta é uma história podre. Prepare seu nariz, isso aqui cheira mal.

Em fevereiro de 2006, o Jornal Nacional da TV Globo fez um tremendo auê com uma série sobre pequenos assaltos no Centro de São Paulo. A reportagem mostrava como era fácil a ação dos punguistas e como havia uma rede que controlava a ação deles. As imagens reveladoras foram tomadas do alto do prédio do Banespa, por uma câmera amadora.

O principal responsável pelas imagens jamais veio a público. É o motorista, que presta serviços à Globo, Gilberto Spera Junior. Designado para acompanhar a equipe na reportagem, Gilberto, um paulista com jeito de nordestino, baixinho, forte, de fala firme e sonho alto, testemunhou os dois dias em que a equipe fez tocaia e nada conseguiu. Nenhum flagrante. A ordem da chefia não tardou:

- Chega, vamos desistir da pauta!

Desistir não é verbo que cabra macho saiba conjugar. Sem falar com ninguém, Gilberto correu atrás de uma câmera amadora, formato Mini DV, e, decidido, partiu sozinho para o local da tocaia. Sua alma lhe dizia que a paciência e a obstinação sempre são recompensadas. E foram. Depois de dois dias de frustrações, Gilberto finalmente captou a ação de um grupo de punguistas. E depois outra. Outra, outra. Dia seguinte, mais flagrantes. Feliz da vida, o "repórter cinematográfico" Gilberto Spera encaminhou o material à chefia de reportagem da Globo São Paulo. Aquilo era ouro em estado bruto. A peça principal da reportagem tinha finalmente aparecido. O resto era tecer a rede de discursos oficiais em torno: polícia, juristas, testemunhas, vítimas etc.

Antes de mais nada, o procedimento normal dentro da Globo é adquirir os direitos sobre as imagens. A empresa encaminhou a Gilberto um documento padrão onde ele, Gilberto, cede todos os direitos sobre as imagens em troca de uma remuneração. Por razões não explicadas, o documento era redigido no nome da mulher de Gilberto. Ele desconfiou mas, com medo de represálias, não quis falar nada. Assinou, pegou a grana e foi feliz assistir a reportagem.

Na exibição, as imagens de Gilberto apareceram creditadas ao repórter cinematográfico Wilson Araújo, que fazia parte da equipe que produziu a reportagem. Foi Wilson que, durante os dois primeiros dias, com uma câmera profissional, não conseguiu pegar nenhum flagrante. Vendo aquilo, Gilberto ficou revoltado. Mas o instinto de sobrevivência falou mais alto. Com medo de perder o emprego, o leite que sustenta a família, Gilberto guardou para si a revolta, não falou nada com ninguém.

Os meses se passaram. Recentemente, Gilberto ficou sabendo que a reportagem estava concorrendo a dois prêmios. O primeiro, prêmio de reportagem da Central Globo de Jornalismo, um evento interno, manipulado pelas chefias, que visa motivar as equipes. O outro, maior e mais importante, na categoria de "reportagem cinematográfica" do Prêmio Imprensa Embratel. A festa de premiação aconteceu na última quarta-feira, dia 6, no Rio. Quem venceu? O repórter cinematográfico Wilson Araújo, pelas imagens exclusivas e reveladoras da reportagem "São Paulo punguistas". Wilson, todo pimpão, apareceu para receber o checão de 6 mil reais das mãos do dublê de radialista e comediante, Maurício Menezes. Agradeceu, ouviu as piadinhas habituais e deu no pé. Nenhuma menção ao "colaborador" Gilberto Spera.

Em São Paulo, Gilberto ficou sabendo por um telefonema, no dia seguinte, que Wilson tinha ganho o prêmio e que a generosa idéia da equipe era dividir o prêmio por seis - o time envolvido na matéria. Como motorista designado, lhe sobrariam cerca de 800 pratas, já descontado o imposto de renda.

Mais um chute no balde da ética, mais um chute vergonhoso no direito autoral, mais uma história escabrosa para os anais do nosso jornalismo. Responda rápido:

- Quem são os verdadeiros punguistas?

Assim caminha a humanidade.

Antonio Basílio

quinta-feira, dezembro 07, 2006

HAJA SACO !

Para o motorista de táxi que puxa aquele papo chato, de preferência no engarrafamento. Que reclama da vida, do trânsito, do colega de "praça", da perua zona sul que tá na frente... Esse mesmo motorista de táxi que em seguida vai fazer aquela bandalha básica!

Para os chatos das filas de supermercado (ou banco, pra quem ainda encara fila de banco), os chatos que azucrinam você dizendo que a garota do caixa é lenta, que a fulana ali não tem mais de 65 e então não deveria estar na fila dos idosos, que os preços estão nas alturas...

Para os "malas" dentro do elevador que, com aquele bafo e calor, dizem que o elevador demora, que a vizinha do 403 sempre faz isso, que pedem pro cãozinho Rex ficar quieto e não babar na canela do vizinho!!!!

Para os piadistas que passam por você no caixa eletrônico e fazem o comentário de sempre, tipo "... deixa um dinheirinho aí, tá parceiro?"

Para esse tipo de gente, todos acima, que todo ano repetem a mesma ladainha como se fosse o surgimento da Virgem Maria:

"Esse ano o verão vai ser fogo!"

"A vida tá dura."

"Esse ano a decoração de Natal começou cedo."

Haja saco!!!!!!!!!!!!!!!!!

Marcelo França

CENA CARIOCA

Mulher do portão - Foto de Lucas Landau

quarta-feira, dezembro 06, 2006

PIRATAS VERSUS LINUX

por André Pessoa

BÚZIOS PARA INICIADOS 7

Mirante do Urubu - Foto de Hermann Nass

AND THE WINNER IS ...

Quem foi o melhor atleta de 2006?

Diego Hipólito, da ginástica? Giba, do vôlei? Ou Torben Grael, do iatismo?

Na próxima 3ª feira o Comitê Olímpico Brasileiro anuncia o vencedor na eleição realizada por jornalistas e dirigentes esportivos e personalidades do esporte. Mas eu já votei: é o Torben!

Nem Giba, nem Diego fizeram tanto pelo esporte nacional este ano como o "Turbina".

Os resultados do ginasta foram excelentes, 5 medalhas em etapas da Copa do Mundo. Só que o ouro de campeão do mundo aconteceu ano passado, e não em 2006.

Giba arrebentou os adversários tanto faz o semestre. Levou o tetra da Liga Mundial e, mais importante, ganhou o bi Mundial agorinha no Japão. E foi considerado o melhor do campeonato.

Mas Torben superou todos. Culpa da Volvo Ocean Race, a regata que durou 8 meses e rodou o planeta com os monocascos mais velozes da história do esporte. Tudo bem, a prova começou em 2005. Mas a recompensa veio agora. E em dose dupla!

Em março, a inesquecível passagem da VOR pelo Rio de Janeiro levou cerca de 40 mil pessoas ao redor da Baía de Guanabara. E foi transmitida ao vivo pelo Sportv. Inédito e emocionante.

E em junho, a sonhada/idolatrada vitória numa das etapas da regata. No caso, Portsmouth/Roterdã.

Tudo isso com orçamento contado nos dedos, largando atrás das equipes no que se refere a cronograma e com a tripulação menos experiente de todas.

No fim das contas, um 3º lugar na classificação geral e a sensação de que o iatismo - o esporte que mais deu medalhas ao Brasil em JogosOlímpicos - está mais próximo da nossa praia.

Marcelo França

segunda-feira, dezembro 04, 2006

CHEF NASS


Hermann Nass

Justiça seja feita: o serviço do Bar Lagoa melhorou muito!

Me lembro de como clientes eram maltratados nas tardes e noites de outros verões cariocas. Sempre cheio, o bar até conquistou a fama de só ter garços carrancudos e displicentes, que teimavam em não aparecer quando mais se precisava deles. As reclamações eram muitas e iam desde chopes encomendados e não trazidos até porções mínimas - ridículas mesmo - de salada de batatas ou rosbife.

Não tenho queixas. Desta vez, fui atendido pelo tipo de garçom que gosto, aquele que se faz presente e discreto nas medidas certas. Ele aparecia quando o chope estava baixo, quase no último gole. Trazia na meia pressão, com aquela generosa espuma. O controle do consumo, feito com as tradicionais bolachas de chope, era preciso. A comida veio antes mesmo de terminar o primeiro copo: uma generosa porção de rosbife com salada de batata. Que não tinha nada de pequena.

CENA CARIOCA

Love and beach - Foto de Lucas Landau


domingo, dezembro 03, 2006

O MAESTRO

Foto site FIVB (www.fibv.org)

Alexandre Moreira Leite

Todos os meios de comunicação vão exaltar o bicampeonato mundial do vôlei brasileiro. E estão certos em fazer isso. Na história desse esporte nunca houve uma equipe como a nossa. Nem a Itália da década de 90, nem os Estados Unidos e a União Soviética da década de 80. Este é um grupo que se supera e se renova a cada conquista. Méritos do técnico Bernardinho e de sua comissão técnica. É impressionante como, a cada nova competição, os jogadores entram em quadra como se não tivessem vencido nada até hoje. E é igualmente impressionante como eles estão física e tecnicamente preparados. Não tem para ninguém. É aí que fazem diferença os 110%, o mantra que Bernardinho não cansa de repetir.

E o que mais me impressiona neste time é o espírito de grupo. Não me lembro de nenhuma outra equipe, em todos os esportes, que, durante tanto tempo, permanecesse tão unida. Unida ao ponto de grandes destaques do vôlei abrirem mão das glórias individuais e de fazerem questão de dizer isso publicamente.

Hoje, eu vou contra a este espírito de grupo. Por um motivo nobre. Vou fazer justiça a um craque. Ou melhor, a um cracaço. Quem pôde acompanhar este Mundial do Japão teve a chance de assistir a um desses momentos raros do esporte : um jogador fora de série em ação. Estou falando de Ricardo Garcia, o Ricardinho, levantador da seleção brasileira. O homem responsável pela preparação das jogadas. Neste campeonato, Ricardinho quebrou todos os paradigmas e reinventou o vôlei (que por sinal está sempre se reinventando). É lógico que jogar junto de um Giba, de um Dante, de um André Nascimento, de um André Heller, de um Escadinha e de um Gustavo ajuda. Talvez sem a ajuda e o talento deles, assim como de todos os reservas da seleção, o nosso levantador não tivesse tanto sucesso.

Em 1998, também no Japão, tive o privilégio de acompanhar o Campeonato Mundial. Muitos dos jogadores de hoje estavam naquele time, dirigido por Radamés Lattari. Maurício era o levantador titular e Ricardinho o reserva. O Brasil teve a oportunidade de chegar à decisão, só que, no jogo semifinal contra a Itália, uma contusão de Giba tirou a concentração da equipe. Eles terminaram em quarto. Mas quem me chamou a atenção naquela competição foi o Ricardinho. Como arriscava. Como inventava. Forçava tanto o jogo nos treinos que surpreendia os próprios companheiros. Dava para ver ali, apesar dos ocasionais erros, o nascimento de um craque. Não é segredo para ninguém que o vôlei é um esporte marcado, estudado e analisado pelos adversários. E nos jogos daquele Mundial de 98, quando ele entrava era um pandemônio no outro lado da quadra. Nem jogadores e nem técnicos ainda estavam preparados para Ricardinho.

Com a aposentadoria de Maurício e com a chegada de Bernardinho, ele teve a sua chance. Chegou devagarzinho. Garantiu a vaga de titular e depois se tornou o maestro do time. Imprimiu uma velocidade nunca antes vista ao ataque do Brasil, sem abrir mão da versatilidade de jogadas, marca registrada da equipe.

Agora, ele foi além da perfeição. Fez o Brasil jogar tão rápido que os bloqueios de times bem mais altos que o nosso não foram obstáculos. Variou tanto as jogadas que, por diversas vezes, os nossos atacantes finalizaram sozinhos. Mas, a grande novidade, o lance genial, foi conseguir manter este ritmo mesmo sem o passe nas mãos. Até hoje, era regra no vôlei : quando o passe não vem bom, bola alta de segurança na ponta. Isso já era. Passe nas placas de propaganda ao lado da quadra: Ricardinho manda uma bola chutada na entrada de rede ou uma rápida na saída. Passe errado atrás da linha dos 3 metros: Ricardinho levanta uma bola rápida para alguém bater de trás ou uma chutada bem veloz no meio. Para quem antes via um levantador armando as jogadas colado na rede, é bom ir se acostumando. Ricardinho agora arma o jogo de onde quer. Sem perder a velocidade.

Exagero? Acho que não. No calor desta conquista, nós, que estamos acostumados a louvar as vitórias desse grupo, temos dificuldades de isolar um desempenho individual. Mas a história lhe fará justiça. Tenho certeza que amanhã, em todas as quadras do planeta, os levantadores vão tentar imitar o Ricardinho. Um craque que, sem medo de errar, coloco ao lado dos grandes nomes do esporte que tive o privilégio de ver em ação como Schumacher, Michael Jordan, Robert Scheidt, Torben Grael, entre outros. Um atleta genial!